Painel de especialistas em segurança alimentar das Nações Unidas vem dedicando atenção especial a dois graves problemas estruturais desse setor: a alta cotação dos preços, especialmente em razão da demanda dos países emergentes, e os efeitos do desperdício que oscila entre a produção e o consumo.
Essas duas questões têm colocado a segurança dos alimentos no centro das preocupações em todos os continentes. Não é sem razão. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima as perdas da produção de alimentos em 1 bilhão e 300 milhões de toneladas, a cada ano, o equivalente a 30% de toda a produção mundial, do campo à mesa.
Os alimentos pesam, cada vez mais, no bolso dos consumidores no mercado mundial. Como não há sucedâneos para a ração humana diária, a questão se agrava, no movimento contínuo, em razão das perdas, na fase de consumo, calculadas em 35%. Nos países desenvolvidos, o índice dos estragos se eleva, chegando a 56% dos desperdícios, conforme as estatísticas do Banco Mundial. A menor oferta de comida, no mundo, agravada pelos preços cada vez mais proibitivos, tenderá em futuro próximo a piorar o quadro, daí a necessidade do combate desses dois fatores fundamentais. Tudo isso, antes que aconteça o agravamento da carência de alimentos.
Essa problemática generalizada, com estragos nos países periféricos, exige soluções proporcionadas ao tamanho de seus desafios. Nos países desenvolvidos, a renda cobre o consumo familiar, por haver em seus planos econômicos subsídios que viabilizam os preços mínimos de produção dos alimentos. Embora neles também os preços se elevem, há meios internos que tornam viável a oferta de recursos para o consumo familiar.
Nos países em desenvolvimento, o quadro se torna mais complexo por não haver essa preocupação em manter os preços da cesta básica blindados contra a especulação financeira, geradora de inflação. Uma saída, para tanto, implicaria em incluir no sistema escolar público a aprendizagem sobre alimentação e nutrição, aliado ao plantio, em maior número de moradias, de horta caseira disseminando a pequena prática agrícola.
Essa exigência, evidentemente, se difundiria nos grupos de educandos situados entre as classes menos favorecidas economicamente. Melhor assim por corrigir falhas herdadas no processo alimentar. As famílias mais carentes não têm acesso às informações elementares sobre alimentos, seus ciclos de produção e de consumo. O compromisso escolar da disciplina alimentação e nutrição se concluiria com cada aluno conhecendo mais sobre a qualidade das comidas.
Quanto ao plantio, essa prática pedagógica seria mais intensa nos grupos com experiência em atividades rurais e que migraram para as comunidades urbanas. Em cada residência há como ser cultivada uma pequena horta. O essencial é aproveitar os espaços disponíveis e ao mesmo tempo se estimular o combate à extravagância de alimentos perdidos.
No Brasil, o desperdício não se encontra apenas no consumo, estimado em 10%. O maior índice concentra-se no manuseio e no transporte dos produtos (50%). A Embrapa estudou a temática, arrolando, além desses fatores, as embalagens e a forma de comercialização dos alimentos "in natura", principalmente quando transportados a granel.
No País em que mais de 15 milhões de habitantes vivem abaixo da linha da pobreza, não é justo desperdiçar alimentos. Esse quadro deve ser revertido.
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE
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